Texto por: Poran Potiguara
“A gente nasce, a gente vive, a gente morre… Mas o nosso povo permanecerá nesta terra para sempre”. (Provérbio Potiguara)
Como seria o outro lado do Atlântico se nós tivéssemos chegado lá e colonizado todos? Seria uma terra sem lei, sem fé e sem rei? Como descreveu Pero de Magalhães, quando “inteligentemente” percebeu que nas línguas indígenas faladas no litoral brasileiro não tinham L, F e R. Será que a balbúrdia estaria solta? O pecado existiria? Ou viveríamos o eterno jardim do Éden? Pelados… sem pressa… paz e amor… o tempo todo fumando o cachimbo da paz? Haveria guerra com tanta paz sendo fumada? Ou a camada de ozônio seria uma camada da paz? Isto é apenas parte dos argumentos históricos que estamos acostumados a ler e que pouco faz sentido para justificar os n´s -cidios que dominam esse país.
O que me causa mais estranheza é perceber que o brasileiro não sabe nada de si e aceita tudo o que contam sobre sua controvérsia história ou estória, sei lá. Nunca me vi no que já li e não acredito no que dizem. O Brasil não foi nem de perto esse Brasil que estamos acostumados a ler e por isso tantas interrogações para algo que não sei se encontrarei respostas. Se realmente tinham chegado ao paraíso perto daquele descrito na bíblia como o Jardim do Éden, por que fizeram questão de destruir tudo que existia nele? Se a primeira impressão ao ver os nativos nus foi de que não parecia haver pecados, por que os apresentaram Deus? Tornando tudo o depois sujo, proibido. Para mim, tudo se torna ainda mais confuso quando em nome da fé, da lei e do rei começam a aniquilar vidas, culturas, valores, crenças, tradições, línguas, cosmovisões, organizações sociais e tantos outros que sumiram com a chegada das naus. De qual fé estamos falando? Qual a lei que devemos seguir? A que rei devo obedecer? Ou melhor… o que é fé, lei e quem é o rei?
Sem sombras de dúvidas, o mundo seria outro com a inversão da colonização. Mas ele seria muito melhor se tivesse respeitado tudo o que existia aqui, principalmente as vidas, os Povos e o verde. Estranho mesmo é ser tratado como o diferente em um local que você sempre existiu, os povos indígenas de hoje não parecem pertencer a esse país que a cada dia faz questão de nos tratar como não sendo seu. Nos chamam de invasores, brutais, selvagens, inimigos do estado, inimigos do desenvolvimento. Como seremos invasores de uma terra que sempre pertenceu a nossos povos? Como ser selvagem, se até a chegada da fé, lei e do rei, eu não precisava lutar para existir? Os Povos Indígenas deste Brasil
sem Brasil têm lutado todos os dias para existir, seja culturalmente, religiosamente, epistemologicamente. Só queremos viver! Esse Brasil precisa aceitar que o nosso Brasil também existe, ele não é diferente do Brasil de vocês, mas é um complemento. O Brasil de vocês nunca será um Brasil por completo, agora o nosso Brasil sem o Brasil de vocês, será um Brasil sem sofrimento, que respeita a vida e que entende que precisamos assegurar a permanência do nosso Povo nesta terra para sempre.