Terra e revolução: o Movimento Zapatista

Foto de capa: Tryno Maldonado/ENLZ

Texto por: Leonardo Santiago - Fórum Popular da Natureza Núcleo Baixada Santista

"Terra para a gente significa nossa mãe, é um princípio, uma origem… Tirar nosso direito à terra, é tirar nossa espiritualidade, nos sentimos solitários e impotentes”

O movimento zapatista tem início no México em 1983. Na época conhecido como “Frente de Liberación Nacional” (FLN), era formado por militantes universitários e revolucionários marxistas que buscavam formar um exército de guerrilha, e que, em contato com as comunidades indígenas de Chiapas, passaram 10 anos organizando um levante, executado no final do ano de 1994, com o objetivo de dar fim à repressão e miséria que o colonialismo havia imposto aos povos originários. Teve como proposta a garantia da autonomia, autodeterminação, educação, justiça, organização política e direito à terra aos povos indígenas.

Pautados na autonomia e na revitalização das suas visões, os povos indígenas do sudeste do México e sua guerrilha, chamada de Exército Zapatista de Libertação Nacional, ou EZLN, se apresentaram ao governo libertando presos políticos, invadindo quartéis militares e ocupando órgãos do governo. Além disso, recuperaram terras invadidas que haviam sido expropriadas de agricultores indígenas, e anunciarem a “Lei Revolucionária das mulheres zapatistas”. Esta, desenvolvida como resultado da organização política das mulheres indígenas zapatistas, as quais buscavam transformação da situação de exploração, discriminação e violência doméstica que vivenciavam.

Houve a tentativa de negociação com o governo, sem resultados positivos, e assim os zapatistas decidiram por declarar a criação das cinco zonas rebeldes, conhecidas como caracóis. Trata-se de regiões onde eles exerciam sua autonomia, criando suas próprias escolas, dando atenção à saúde, e trabalhando nas cooperativas. Estas eram sustentadas por uma “jornada dupla de trabalho” exercida por todos, e por um lado com atuação nas plantações familiares, fonte de alimentos, e o trabalho coletivo; e por outro, com atuação na estrutura jurídica, tanto em plantações coletivas ou em cargos da comunidade, tais como: autoridade autônoma, promotor de educação, saúde, comunicação e agroecologia.

A agroecologia, em especial, ocupa um papel crucial nos caracóis zapatistas, uma vez que a comunidade toda gira em torno dela, sendo ensinada nas escolas desde a infância. É estimulada não apenas por ser fonte de sustento e promotora da soberania alimentar, mas por ser fonte de resistência. Esse modelo inverte o conceito capitalista da terra como objeto de exploração e mercadoria, tornando-a um bem coletivo a ser cuidado, valorizando a natureza e a ligação dela com a própria comunidade. Tem como características o incentivo à coletividade, à distribuição igualitária do trabalho, e propõe uma ética que considera a saúde e o bem-estar dos indivíduos, das comunidades e das ecologias.

WhatsApp Image 2021-07-14 at 12.06.35 Foto: Tim Russo

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