Texto por: Jovina Renhga
O MASSACRE CONTINUA.
DIA 22 DE JUNHO DE 2021,
ESSE SERÁ O DIA MAIS TRISTE
DE TODA MINHA VIDA, POIS SOU MULHER
MAS SEMPRE ESTIVE NA LUTA
PRA DEFENDER NOSSO POVO.
MAS NESSE DIA FOI UM HORROR,
POIS EU E TANTOS OUTROS PARENTES
INDÍGENAS DE VÁRIOS CANTOS DO BRASIL
FAZÍAMOS UM ATO PACÍFICO PARA LUTAR
CONTRA A PL 490, UMA LEI QUE IRIA PREJUDICAR NOSSO
POVO INDÍGENA, MAS NESSE DIA FOI UM HORROR
POIS FOMOS ATACADO PELA POLICIA NO CONGRESSO.
MEU CORAÇÃO DISPAROU A VER TODA AQUELA BRUTALIDADE,
E MUITOS CORRENDO, MULHERES, JOVENS, CRIANÇAS.
QUE TRISTE VER NOSSOS PARENTES CAINDO, OUTROS CHORANDO
E CRIANÇAS GRITANDO.
MEU DEUS NOS AJUDE, POIS OS POLÍTICOS QUEREM
NOS PREJUDICAR SEMPRE.
Gostaria de comentar que sou uma mulher indígena do povo Kaingang, natural do Paraná, e como vivemos uma época difícil em que temos o coronavírus!, um vírus que não tem dó e que muitos pegam mas resistem, outros pegam e passam muito mal. Outros não aguentam e morrem. E sabemos que, no Brasil, muitos indígenas pegaram essa doença e morreram. E eu também peguei, sofri muito, fiquei na minha aldeia na minha casa, com muita dificuldade e senti que ia morrer, pois essa doença é cruel, mas fui resistindo e sobrevivi.
Ainda quando estava me recuperando, eu sabia que muitos indígenas estavam em Brasília lutando pelos nossos direitos, contra essa PL 490, e como uma caravana ia sair da nossa aldeia, Kakané Porã eu resolvi ir também. Sei que estava me recuperando, mas não aguentei e tive que ir e fazer parte, juntos com outros parentes. Inclusive, muitas mulheres estavam presente, algo que posso dizer que é muito importante, pois antigamente só havia os índios homens nas lutas e reuniões. Mas hoje nós mulheres também estamos juntas nas lutas, acredito que isso é muito importante.
E ali fiquei em Brasília, junto com muitos indígenas, eram vários povos de todos os cantos do Brasil, havia vários atos e eu junto ao nosso povo gritando pelos nossos direitos, algo por que na verdade nem sempre somos respeitados. Por isso, quando estamos na luta, não quer dizer que somos bagunceiros, mas sim guerreiros, porque se não lutarmos aí sim sofremos mais perdas. Desde 1500 o que acontece com nosso povo sempre foram perdas, e por isso sempre lutamos e sempre se for preciso estar em Brasília, estarei juntos com nossos parentes.
Mas, no dia 22 de Junho, nós indígenas estivemos no Congresso, num ato pacifico, como sempre temos o costume de fazer, onde vários povos estavam ali, dançando e gritando palavras de Demarcação já. Mas de repente, começamos a ouvir tiros, era a policia do Governo que havia no local, que assustou a todos e teve uma grande correria sem ninguém saber o que fazer. Eram muitos tiros e aqueles gazes sendo soltos. Sofremos muito com essa brutalidade policial, alguns caíram e nisso levei um tiro de borracha, e com aquele gás forte eu desmaiei.
Por isso quero dizer que nós mulheres indígenas somos a força da nossa cultura, somos nós que geramos os filhos, mas também somos as guerreiras também para lutar em defesa do nosso povo.