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Texto por: Maria Luiza
O conceito de justiça climática surge como um desdobramento entre o paradigma da justiça ambiental e a percepção de que os impactos das mudanças climáticas atingem de forma contínua e intensa diferentes grupos sociais, gerando uma incidência ambiental e social desigual. Ou seja, as problemáticas ambientais não afetarão igualmente as pessoas e os países. Assim, segundo Antonio Peña Jumpa, professor de direito, justiça climática significa a Justiça aplicada em conflitos derivados do clima ou das mudanças climáticas.
O especialista indiano em mudanças climáticas, Thiagarajan Jayaraman, diz: “a percepção de que não estamos lidando apenas com o aquecimento global, mas com o aquecimento global em um mundo desigual e injusto, ainda tem que ser entendida”.
Atualmente, estamos enfrentando uma dura realidade capitalista, a qual, cada vez mais, nos torna reféns da mercantilização da natureza. Tal fenômeno e comportamento destrutivo pode ser interpretado como a permanência primitiva e narcisista humana sobre a natureza.
Essa necessidade de gerar capital a todo custo, com a justificação do crescimento econômico e desenvolvimento humano sem responsabilidade social e ecológica, impulsiona países e pessoas a incrementar freneticamente a poluição e a destruição da biodiversidade, dificultando inclusive a sobrevivência e subsistência humana.
Este cenário apresentado é o fator central que atua diretamente sobre a vulnerabilidade das mudanças climáticas.
É possível observar alguns dos efeitos sociais e de saúde decorrentes do capitalismo depredador que gera crises ecológicas, como no aumento de desigualdades sociais, aumento da violência, mobilização forçada de populações em massa, maior incidência de epidemias e surtos devido à mudança de temperatura e climas, pandemias, enfermidades ou dificuldades respiratórias agravadas pela contaminação do ar etc.
De acordo com o Tyndall Center for Climate Change Research, os países mais afetados pelo aquecimento global são aqueles em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, pois disponibilizam de menos recursos, investimentos e incentivos próprios para adaptar-se às novas situações oriundas da depredação causada em seus territórios.
Um dos grandes problemas ocasionados para agravar as crises ecológicas está na falta de consciência e na falta de acesso a informações confiáveis sobre os efeitos da mudança climática. Banalizar problemas ecológicos e sociais somente os aumenta, ignorar povos originários, marginados e comunidades vulneráveis só permite reforçar e intensificar as desigualdades sociais.
A justiça climática, por seu turno, é o contraponto das desigualdades sociais e ecológicas, apontando-nos o caminho para uma transição justa para um futuro sustentável simbiótico entre a natureza, o campo e as cidades. Segundo a UNESCO, ela deve atuar para proteger pessoas e países mais vulneráveis dos impactos da crise climática e ecológica.
É fundamental pensarmos como coletivo, como comunidade e não apenas como indivíduos. A natureza não pertence a um lugar ou espaço, ela é o espaço e o lugar que vivemos, nós somos uma extensão dela e não o inverso. Nesse sentido, a justiça climática pode nos auxiliar, atuando na restauração dos ecossistemas, na ampliação da extensão de habitats e biodiversidade de espécies; restauração da complexidade dos biomas; apoio popular para recuperação de populações de espécies individuais etc.