Hortas escolares: um processo político social de aprendizagem sobre a natureza e a comunidade

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Imagem via Ministério da Educação

Por Maria Luiza

A horta escolar não deve ser tratada como um simples espaço delimitado de alguns cultivos de hortaliças, ervas aromáticas e ou frutas. É um território e um espaço de aprendizagem urbana que aprofunda conhecimentos sobre a natureza e a convivência harmoniosa em comunidade.

Terminologia:
A palavra horta é origem latim - hortus - e significa jardim comestível, enquanto a palavra escolar radica do latim - Schola - significa espaço que os seres humanos assistem para aprender, enquanto que a mesma palavra de origem grega pode suscitar em tempo livre para engrandecer o espírito.

A horta escolar é um território político e social de aprendizagem sobre natureza e comunidade. É onde alunos/alunas e professores integram-se e inter atuam para obter conhecimentos sobre: a terra, o cuidado, bem estar do planeta, amor à terra e aos seres vivos e humanos. Criar um projeto de hortas escolares vai mais além de cultivar plantas, pode ser engajado no desenvolvimento da consciência humana, sobre a vida, a natureza, as comunidades. Possibilita uma infinidade de possibilidades para fomentar nos alunos e nas alunas um entendimento sobre a realidade, causas e efeitos, vida e morte, início, meio e fim, sobre compor-se, decompor-se e recompor-se, etc.

A horta não é apenas um processo de oferecer a ferramenta da observação, ou seja, observar de longe como é uma determinada realidade inferindo mecanismos primários de aprendizagem. Se um educador plantar alfaces e logo levar os alunos para observar o cultivo e dizer "vocês devem comer alface”, não é o mesmo que experimentar todo o processo, observar, analisar, refletir, debater e logo compreender o quanto é e será importante cultivar alimentos e por qual razão devemos comer alimentos cultivados diretamente da horta.

A horta escolar também é uma ferramenta de estudo das ciências naturais, da natureza, de processos ecológicos e crises ecológicas, fomentando o exercício prático da realidade sobre a natureza, sobre o tempo, a paciência e a persistência que exige dos agricultores para a agricultura de subsistência e resistência. É com esta ferramenta que torna-se possível a percepção dos sentidos e mecanismos sensoriais de como a natureza funciona ou como não funciona.

É um meio de compreensão cognitiva humanista sobre saber fazer e saber ser, saber estar e incidir. Entender é transmitir a informação. Compreender é saber, praticar é introjetar para si e aos demais sobre a importância de plantar as árvores. A estudante e o estudante aprendem cognitivamente, necessitam inferir - observar e experimentar. A construção de um projeto de horta escolar vai mais além de um manual de instruções, deve basear-se na articulação do bem estar do planeta, deve desenvolver-se em coerência integrativa com a natureza.

É de grande importância compreender a escola como uma comunidade, onde é possível pensar e interactuar em diferentes modelos para a aprendizagem. Alguns povos originários indígenas utilizam o modelo de aprendizagem e comunicação transversal para ensinar, todas as gerações participam na produção e processo de conhecimento e utilizam a natureza como elemento central de ensino e aprendizagem.

A inclusão de hortas escolares é importante para desenvolver a consciência humana, ensina sobre o que é ordem e caos, pois a natureza é o caos em si mesma e ao mesmo tempo é ordem, é autopoiética. A horta escolar não é exatamente um processo para entender a natureza, o qual apenas observamos um elemento isolado de uma determinada realidade deslocada da natureza em si e como um todo, inferindo apenas um mecanismo primário de aprendizagem. Tão pouco não é somente uma ferramenta para fomentar o exercício de aprender por repetições, onde se demonstra a experiência em si, desconectada e sem perceber o sentido e o significado. A horta escolar deve ser vista como um território político e social de compressão cognitiva.

Aprendemos e ensinamos observando, experimentando, explorando, refletindo e incidindo sobre a natureza. A natureza favorece a neuroplasticidade, estimula a relação e regulação de sensações, memórias e emoções, nos ensina sobre os princípios de vínculo seguros.

Jacques J. Rousseau estudioso da fenomenologia afirmava que as crianças deveriam viver no campo até seus 10 anos. A criança e o jovem aprendem vendo e experimentando com a natureza. E para planejar e organizar a horta escolar é importante desenvolver dentro da metodologia construtivista, em que cada participante possa sentir-se protagonista e parte integrante do processo de aprendizagem.

A horta escolar fornece múltiplos elementos e ferramentas para a transdisciplinaridade, pode ser estudada áreas como: ciências naturais, lógico matemática, estatística, geometria, habilidade aeroespacial, artísticas, lúdicas, sensoriais, escrita fina e grossa, sistemas agroalimentares, liderança, cooperação, laboratórios cooperativistas, solidariedade, paciência, entusiasmo, persistência, curiosidade, capacidade investigativa e reflexiva, observadora, contempladora, trabalho comunitário, autonomia, auto organização, soberania alimentar, saúde física e emocional, nutrição, saúde mental, bem estar e qualidade de vida.

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