Carta de intenções e ações do Núcleo Alto Tietê do Fórum Popular da Natureza

“Os cientistas dizem que somos feitos de átomos, mas um passarinho me contou que somos feitos de história”. Eduardo Galeano.

O território do Alto Tietê, na região metropolitana de São Paulo, é formado pelos municípios de Arujá, Biritiba Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Poá, Salesópolis, Santa Isabel e Suzano, que somam quase 3 milhões de habitantes. É considerado cinturão verde, pois concentra a produção de hortaliças e verduras que abastecem a capital paulista, assim como o polo estratégico do sistema hídrico de abastecimento de água.

Essa riqueza ambiental é ameaçada por práticas predatórias empresariais, da especulação imobiliária, mineração e pedreiras, indústrias químicas altamente poluentes, monocultura e gestão privada dos recursos hídricos. Soma-se a isso a falta de saneamento básico e gestão de resíduos sólidos, falta de política pública de moradia popular e inclusão social, pouco incentivo às práticas sustentáveis e educação ambiental.

O Núcleo do Fórum Popular da Natureza no Alto Tietê nasceu da união de movimentos sociais e ativistas da causa ambiental norteados pelo conceito de Bem Viver, pois não temos futuro nessa ordem capitalista. Adotamos como missão o trabalho comunitário para que as pessoas saiam da passividade e encontrem um novo significado para suas vidas por meio da luta ambiental. Dessa forma, nosso desafio é trabalhar a reeducação para construção de uma ordem social solidária com mais igualdade, inclusão, dignidade, liberdade e participação política com equidade social e de gênero. Com mão na terra, buscando saúde mental e física para edificar uma rede de apoio aos movimentos sociais, grupos e pessoas que compõem o Núcleo.

Nosso objetivo é:

a) Criar estratégias para o fortalecimento dos sujeitos coletivos que lutam na atual democracia pela justiça e emancipação social;

b) Contribuir para o estabelecimento de uma nova ética ecológica, a qual permite viver em harmonia com a Terra e se responsabilizar por ela por meio da conscientização que não esteja sujeitada ao paradigma do crescimento, desenvolvimento econômico e social do modo de ser capitalista;

c) Resgatar a relação ancestral do ser humano com a natureza entendendo que o ser humano a integra, uma vez que no meio ambiente todos os elementos estão conectados entre si;

d) Incentivar a participação política dos jovens por meio de práticas que articulem o compromisso com a vida, com os direitos e a transição ecológica propostos pelo Estado do Bem Viver, proporcionando novo significado para suas vidas ao tornarem-se atores ativos do processo de preservação;

e) Sensibilizar e mobilizar a comunidade local, tendo como eixo o tema dos recursos hídricos, para o desenvolvimento de ações de educação e trabalho com os afetos permitindo ter contato com outros temas do entorno e sua comunidade, por meio de relações horizontais gerando engajamento popular para enfrentar os problemas concretos da população.

Para isso a organização popular também é foco de atenção. Nos propomos a fomentar a participação da sociedade civil em conselhos municipais e outros espaços de exercício da democracia direta, propondo políticas públicas para que as propostas tenham sustentação de poder político, assim como estudo e produção de conhecimento para defesa do território, articulação de parceiros e conexão de ações e experiências de proteção ambiental.

Para cumprir nossa missão, atingir esses objetivos e desenvolver tais métodos, criamos até o momento os Grupos de Trabalho (GTs) de Articulação e Animação; Comunicação; Democracia Direta; Economia Solidária; Educação e Formação e Observatório da Natureza. Também delegamos responsáveis pela facilitação de reuniões, secretaria e cuidador(a) do tempo.

O GT Democracia Direta busca, a partir das demandas socioambientais da região, encontrar, organizar e auxiliar na construção de sujeitos coletivos capazes de buscar pluralismo jurídico, caminhos e soluções aos próprios problemas. Ainda, fomenta ações, a exemplo a criação de hortas comunitárias como espaços de construção do Bem Viver e de troca de saberes sobre alimentação, saúde, terra, espaço público e comunitário, trabalho e renda e outros direitos básicos.

O GT de Comunicação busca alcançar as pessoas por meio de uma comunicação popular que chegue nas periferias, na população invisível para o capital e na juventude. Para isso desenvolve ações criativas de mobilização cultural, diversificando os canais de transmissão por meio de ferramentas offline e humanizadas.

O GT de Economia Solidária busca aprender com as experiências de movimentos sociais e tem na Agroecologia uma prática que nos inspira para a transformação social. A economia solidária deve ser tratada como eixo estruturante de nossas propostas de políticas públicas.

O GT de Articulação e Animação tem a responsabilidade de: realizar a administração das atividades do fórum; desenvolver atividades de pesquisa; mapear as iniciativas socioambientais da região e o capital de experiências do grupo; facilitar a articulação entre os membros do grupo; engajar os participantes do FPN Alto Tietê por meio de convites, envio de mensagens, telefonemas, etc.

O GT de Educação e Formação tem a responsabilidade de inserir as rodas de conversa como espaços de formação, eleger métodos e ferramentas para organizar reuniões de trabalho produtivas e trabalhar os temas do fórum.

O GT Observatório da Natureza tem a responsabilidade de reunir conhecimento sobre o território, organizar e tornar acessível informações técnicas sobre o meio ambiente constituindo um repositório para subsidiar o Fórum em sua luta em defesa da natureza.

Nota: Bem Viver é um conceito andino, que surge como uma oportunidade de imaginarmos outros mundos possíveis que se contrapõe ao modelo hegemônico de produção atual, onde possamos viver em sociedade com a natureza, assegurando um futuro harmônico e em equilíbrio. Acosta (2016, p. 24-25, 39) declara que:

“O Bem Viver se apresenta como uma oportunidade de construir coletivamente uma nova forma de vida; é bem conviver em comunidade e na Natureza, é um processo proveniente da matriz indígena. Nutre-se da necessidade de impulsionar uma vida harmônica entre os seres humanos e deles com a Natureza: uma vida centrada na autossuficiência e na autogestão dos seres humanos vivendo em comunidade”.